Introdução

“A Rainha é que manda” é uma exposição online baseada em pesquisa sobre a história das mulheres, do género e do poder no Norte de Moçambique.  Foca-se nas histórias orais das chefes e rainhas Yaawo.

Os Yaawo são matrilineares e têm uma longa tradição de figuras de autoridade política e religiosa femininas. Porém, sabemos pouco sobre as suas histórias e sobre o poder que elas um dia exerceram.

Uma das razões pelas quais sabemos pouco é porque as fontes escritas dão-nos muito pouca informação. Aquilo que sabemos da história antiga dos Yaawo chega-nos principalmente dos relatórios e textos dos missionários e viajantes, bem como dos estudos de antropólogos coloniais. Estes escritores ocidentais ignoraram em larga medida tudo o que está relacionado com o poder das mulheres. Pelo contrário, fazem-nos chegar histórias sobre governantes masculinos e sobre como a autoridade política e espiritual estava nas mãos dos homens.

Os livros de história contemporâneos—elaborados a partir destas fontes—consolidaram ainda mais a fama dos líderes masculinos Yaawo. Uma e outra vez, eles partem da liderança masculina e da forma masculina de exercer poder como a norma inquestionável.

“A Rainha é que manda” questiona este consenso. Através da exploração das narrativas históricas orais que passaram de geração em geração, conta-nos um outro tipo de história de género sobre este passado. 

A exposição conta a história de um passado mais remoto, quando a autoridade político-espiritual masculina não era a norma e também as mulheres falavam e agiam com autoridade.

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Esta exposição é baseada na pesquisa de história oral feita por Jonna Katto, em colaboração com Helena Baide e Domingos Aly, no Niassa, entre 2014 e 2020.

A exposição tem versões em inglês, português e em ciyaawo.

Créditos pela tradução do conteúdo expositivo:

Domingos Aly (ciyaawo)

João Figueiredo (português)

As gravações áudio da exposição – narradas por Emília António – estão disponíveis em ciyaawo e em português.

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Esta exposição foi pensada enquanto forma de divulgar a uma audiência mais alargada alguns dos resultados do projeto de investigação “Rethinking African Gender Histories: Time, Change, and the Deeper Past in Northern Mozambique” (GENHIS-AFRICA) [Repensando as histórias de género em África: Tempo, mudança, e o passado profundo no Norte de Moçambique]. O GENHIS-AFRICA foi acolhido pelo Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Ghent, e financiado pelas ações Marie Skłodowska-Curie—Esquema de Bolsas Individuais (2019-2021).