Recursos adicionais

Pequeno glossário

Biibi (pl. Acibiibi)                       

Título honorífico que nas matérias de história oral desta exposição é usado para fazer referência a mulheres com autoridade, como sejam as chefes ou as esposas principais dos chefes.             

O termo provém do Suaíli, e resulta da longa história de contactos culturais e comerciais entre os Yaawo e a costa da África Oriental. Foi através destes contactos comerciais que os chefes territoriais Yaawo começaram a adotar o título de ‘sultão’, e é provável que o termo ‘biibi’ tenha sido introduzido em simultâneo enquanto título honorífico das figuras de autoridade femininas. Em Ciyaawo, a expressão ‘biibi’ é traduzida para ‘angaanga’ (avó), que é um termo mais antigo.

« back to top

Captura de escravos                

Os chefes Yaawo mais poderosos também capturavam e negociavam escravos de forma ativa. Normalmente, eles faziam razias às comunidades beira-lago Nyanja, mas chefes Yaawo rivais também atacavam as populações uns dos outros. Através da captura de escravos, estes chefes procuravam expandir os seus territórios e aumentar as suas populações. Para além do mais, o comércio de escravos tornou-se um monopólio dos grandes chefes, que enviavam caravanas em direção à costa. Em meados do século XIX, os Yaawo era os principais fornecedores de escravos aos mercados da costa que se estendia de Zanzibar a Quelimane.

(Fontes: Abdallah 1919; Alpers 1969; Medeiros 1997; Phiri 1984)

« back to top

Ce-                                               

Um título de respeito de género neutro que é adicionado como prefixo a um nome. Muitas vezes este título denota senioridade.

« back to top

Dinastia Mataaka                     

A dinastia Mataaka é a mais famosa das dinastias de chefes Yaawo do século dezanove. O fundador da dinastia foi Ce-Nyaambi. Através da sua proeza militar e da sua política expansionista, o Estado Mataaka tornou-se a mais poderosa das chefaturas Yaawo. Mataaka I morreu por volta de 1879, mas o título “Mataaka” foi continuado pelos seus herdeiros masculinos, por sucessão matrilinear. No auge do seu poder, o terceiro sucessor do título de Sultão Mataaka, Ce-Bonomadi (c. 1885-1903), controlou grande parte do Norte do Niassa. 

(Fontes: ver também Liesegang n.d.; Medeiros 1997)

« back to top

Guerras Ngoni                           

As migrações violentas dos Ngoni através do Norte de Moçambique decorreram em duas vagas. Durante a primeira (c. 1845-1870), os Ngoni deslocaram-se em direção ao Norte através das terras dos Yaawo e dos Nyanja, até se fixarem em torno da área de Songea, no que é hoje a Tanzânia. A segunda vaga de incursões (c. 1875-1897) foi causada por lutas internas entre grupos Ngoni, que resultaram em alguns destes grupos serem empurrados para baixo do rio Rovuma, a partir de onde se aventuraram ainda mais para Sul, sendo que um grupo, por exemplo, se fixou na área de Ntonya. 

(Fontes: Liesegang 1984; Northrup 1986; Phiri 1984)

« back to top

Mbopeesi                                

Mbopeesi é o nome dado à farinha sagrada que é oferecida na cerimónia comunitária em que é pedida ajuda aos espíritos ancestrais para que sejam garantidos a segurança e o bem-estar dos vivos. 

« back to top

Narrativas dinásticas               

Narrativas passadas de geração em geração que contam a história de uma dinastia (por exemplo, a dinastia Mataaka). Estas narrativas são transmitidas oralmente entre os membros das famílias nobres.  

« back to top

Narrativas históricas orais     

Narrativas históricas orais são narrativas sobre o passado mais remoto que foram transmitidas através do tempo e de várias gerações de narradores. Elas não são relatos estáticos do passado. Pelo contrário, elas são simultaneamente sobre o passado e o presente, e são moldadas por processos históricos de mudança.

« back to top


Fontes portuguesas (mencionadas nos capítulos 4 e 7)

Na narrativa de Ce-Nan’tima: Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), SCCIM N°. 16 (folhas 16–20): Administração da Circunscrição do Lago: Regedoria Maniamba (no date), pp. 2–3. This document, probably compiled in 1966, is a reply from the Maniamba chieftaincy on a colony-wide inquiry (started by the Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Moçambique after the outbreak of the war) that aimed to learn about the culture and habits of the people.

Na narrativa de Ce-M’bajila: Ernesto Jardim de Vilhena. Companhia de Nyassa: Relatorios e Memorias Sobre Os Territorios. Lisboa: Typographia da A Editora, 1905.


Bibliografia

Abdallah, Yohannah B. The Yaos: Chiikala cha Wayao. Editado e traduzido por Meredith Sanderson. 1919. 2ª edição. London: Frank Cass and Company, 1973.

Alpers, Edward A. Ivory and Slaves: Changing Pattern of International Trade in East Central Africa to the Later Nineteenth Century. Berkeley: University of California Press, 1975.

Alpers, Edward A. “Trade, State and Society among Yao in the Nineteenth Century.” Journal of African History 10, no. 3 (1969): 405–420.

Amaral, Manuel Gama. O povo Yao: subsídios para o estudo de um povo do noroeste de Moçambique. Tese de Licenciatura em Antropologia, Universidade Técnica de Lisboa, 1968. Lisboa: Instituto de Investigação Científica e Tropical, 1990.

António, Alexandre, and Lúcia Laurentina Omar. Alguns usos e costumes matrimoniais dos povos Yao e Nyanja da província do Niassa. Lichinga: CIEDEMA, 2007.

Bonate, Liazzat J. K. “Matriliny, Islam and Gender in Northern Mozambique.” Journal of Religion in Africa 36 (2006): 139–66.

Bonate, Liazzat. “Yao, Islam and the.” Oxford Islamic Studies Online. Accessed July 13, 2012. www.oxfordislamicstudies.com/article/opr/t343/e0055.

Dos Santos, Nuno Beja Valdez Thomaz. O desconhecido Niassa. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1964.

Katto, Jonna. “‘The Rainha is the Boss!’: On Masculinities, Time, and Precolonial Women of Authority in Northern Mozambique.” Gender and History (2022, e-pub antes da impressão). https://doi.org/10.1111/1468-0424.12590

King, Noel Quinton, Klaus Fiedler and Gavin White, eds. Robin Lamburn: From a Missionary’s Notebook. The Yao of Tunduru and Other Essays (Saarbriicken: Verlag, 1991).

Liesegang, Gerhard. “A estrutura política, a estratificação social e o lugar dos chefes na estrutura económica e religiosa antes da conquista colonial.” In História do Niassa. Vol. 1. Maputo, manuscrito não publicado, 2014[1990?].

Liesegang, Gerhard. “Guerras, terras e tipos de povoações: sobre uma ‘tradição urbanistica’ do norte de Moçambique no século XIX.” Revista Internacional de Estudos Áfricanos 1 (1984): 169–184.

Liesegang, Gerhard. História do Niassa ca. 1600–1918: estados, política e economia no periodo precolonial e a conquista colonial. Maputo, manuscrito não publicado, s.d.

Livingstone, David. The Last Journals of David Livingstone, in Central Africa, from 1865 to His Death. Continued by a Narrative of His Last Moments and Sufferings, Obtained from His Faithful Servants, Chuma and Susi, vol. 1. London: John Murray, 1874.

Maples, Chauncy. Journals and Papers of Chauncy Maples, D.D., F.R.G.S., Late Bishop of Likoma, Lake Nyasa. London: Longmans and Co., 1899.

Medeiros, Eduardo da Conceição. História de Cabo Delgado e do Niassa (C 1836–1927). Maputo: Central Impressora, 1997.

Mitchell, James Clyde. The Yao Village: A Study in the Social Structure of a Nyasaland Tribe. Manchester: Manchester University Press, 1956.

Northrup, Nancy. “The Migrations of Yao and Kololo into Southern Malawi: Aspects of Migrations in Nineteenth Century Africa.” The International Journal of African Historical Studies 19, no. 1 (1986): 59–79.

Omar, Lúcia Laurentina, and Alexandre António. As dinastias Mataaka (Sec. XIV–XX). Maputo: ARPAC-Instituto de Investigação Sócio-Cultural, 2004.

Peirone, Frederico José. Tribo Ajaua do Alto Niassa (Moçambique) e alguns aspectos da sua problemática neo-islâmica. Lisbon: Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), 1967.

Phiri, Kings M. “Yao Intrusion into Southern Malawi, Nyanja Resistance and Colonial Conquest, 1830– 1900.” Transafrican Journal of History 13 (1984): 157–1976.

Silveira da Costa, Camilo Manuel. O Niassa visto por dentro. Lisboa: Boletem Geral do Ultramar, 1959.

Vene, Manuel. Liderança Feminina no Estado Mataaka: Mitos e Poderes da Rainha Acivaanjila e Majuuni (Sec. XIX-XX). Lichinga: ARPAC-Instituto de Investigação Sócio-Cultural, 2018.

Zimba, Benigna. ” ‘Achivanjila I’ and the Making of the Niassa Slave Routes.” In Slave Routes and Oral Tradition in Southeastern Africa, editado por Benigna Zimba, Edward Alpers e Allen Isaacman, 219–251. Maputo: Filsom Entertainment, 2005.